quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Uma mosca sem valor...

Neste país carregado de médicos, doutores, engenheiros, advogados, carregado de gente com a ordem de Cristo, dos Templários e quiçá dos Visigodos, carregado de gente com com lapelas medalhadas, o que parece importar é isso mesmo, títulos... E quanto mais melhor, a grandeza da pessoa é vista pelos galhardetes que ostenta.
Isto irrita-me e irrita-me muito, principalmente quando a visita destes mui nobres personagens implica com a minha vida profissional e com aqueles que dela dependem.
Ah e tal... Porque amanhã vem cá sua excelência e por isso tudo tem de estar impecável, sua excelência tem de ser recebida com pompa e circunstância, sua excelência não pode ser recebida na sala x, tem de ser na sala xy, sua excelência não pode caminhar por onde caminha a plebe, sua excelência tem de se deliciar com belas flores, sua excelência tem de ser recebida à sua altura... Mas qual altura? É algum gigante? É algum fenómeno de sapiência... Tenham paciência!
Afinal quem é sua excelência? Sua excelência é um qualquer homem, ou um homem como outro qualquer, simplesmente vem armado em político do planalto, de colarinho branco, com punhos engomados e enfeitados com botões. Não é o Papa, pois este seria Sua Santidade, não viria de botões de punho e o branco não seria do colarinho. Se fosse o Papa, de certeza que preferia ser recebido com modéstia e humildade, porque os verdadeiros homens valem pelo que são, não por aquilo que querem ser.
Tenho pena desta gente, desta gente que se deslumbra com o acessório. Faz-lhe falta ler Aleixo, pois certamente ainda não sabem que uma mosca sem valor, pousa co'a mesma alegria na careca de um doutor, como em qualquer porcaria.

7 comentários:

  1. : )))

    Os títulos académicos ainda são muito importantes em determinados países, nomeadamente, Portugal, países da América do Sul... : ) E mais não digo... a mmm’s já o disse.

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  2. Gentinha que vive dos títulos...que muitas vezes não os têm.

    O poema de Aleixo acenta-lhes que nem uma luva!

    Beijinhos.

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  3. Também não gosto de títulos e odeio essas coisas, de receber x ou y com outros "modos" quando de importantes nada têm.

    Beijocas

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  4. Gente pequenina que também me irrita mas, infelizmente, já não me surpreende.

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  5. Concordo que pessoas que se arrogam de títulos que acham que merecem são repugnantes, mas muitas vezes não são essas pessoas que se acham mais importantes que os outros. Se a dinâmica do escritório/empresa muda porque "sua excelência" lá vai, a culpa não é de "sua excelência", mas sim de quem vai a receber, que considera que "sua excelência" não é digna de ver/usufruir das normais condições do escritório/empresa e não é ela que vai exigir as flores X e a sala Y. Isso é um problema de mentalidade de quem recebe, não de quem visita.

    E falo com conhecimento de causa. Sou advogada e nunca me arroguei de título algum, fiz qualquer exigência ou sequer usufruí do direito de preferência em qualquer serviço público, e no entanto sempre fui tratada com demasiada deferência para o meu gosto. Sempre me apresentei pelo meu nome próprio e quando em trabalho, claro, apenas dizia que era advogada de X, caso contrário não tinha legitimidade para fazer o meu trabalho.

    Mas desengane-se quem acha que isso é problema de países pequenos. Vivo na Alemanha e aqui conseguem ser ainda piores. Os médicos metem doutor na placa consoante a quantidade de especializações que fazem (é comum terem duas ou três vezes a palavra doutor antes do nome), os advogados apresentam-se como e até nas folhas timbradas/e-mail/placas metem doutor e já para não falar que aqui toda a gente é "Experten" (especialista) em alguma coisa.

    A deferência não é exigida (na grande maioria dos casos) pelos médicos, engenheiros, advogados e afins, mas é sim dada por aqueles que o não são e disso é muito difícil fugir.

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  6. Estas excelências são pessoas tristes, comodamente instaladas num estatuto medíocre.

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  7. As pessoas de verdadeiro valor exigem apenas ser tratadas com respeito e dignidade que nada têm a ver com receções ridículas que põem em causa o trabalho de quem trabalha e envergonham as instituições que as promovem como se o desempenho de quem lá trabalha com seriedade precisasse de ser mascarado com cenas humilhandes e vergonhosas de tão disparatadas e de deferência de bobo da corte para com suas excelências que, na maioria, não fazem a menor ideia do dia a dia das instituições que visitam e, na maioria, não querem saber. Isto é quase tudo um teatrinho.

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